Desde 2008 noticiários midiáticos têm trazidos ao conhecimento público os ataques sofridos por animais e pessoas no Pantanal Brasileiro. Analistas e Pesquisadores estudam as diversas causas para esses acontecimentos e organizações em defesa do “Patrimônio Mundial” e “Reserva da Biosfera” apresentam ações de preservação da biodiversidade do Pantanal.
Em Cáceres, MT, a 221 km de Cuiabá, no ano de 2008, Luiz Alex da Silva Lara foi atacado enquanto dormia, ele acompanhava seu pai, Alonso Silva, pescador profissional em iscas e estava sozinho no momento do ataque. Até então os ataques fatais de onças-pintadas sobre homens eram narrativas sem registro oficiais, que levavam os pescadores a pensarem que as eventuais onças-pintadas avistadas nunca iriam atacá-los.
“Eu pressenti a onça, consegui me esquivar, mas fui atacado e lutei com o bicho”, disse o técnico ambientalista Valdemar Ortega, de 53 anos, funcionário do Instituto Chico Mendes, para o Diário de Cuiabá, em 14/04/2010. Na noite de 12/04 quando desligava os equipamentos de geração de energia elétrica o técnico foi surpreendido por uma onça-pintada que o atacou, atingindo barriga e pernas. Sr. Valdemar relata que teve muita sorte em escapar com vida e que esta não foi a primeira vez que se deparou com uma onça-pintada, no ano anterior evitou o ataque da onça quando vistoriava o maquinário da estação.
Em 2010, a 50 km do local do primeiro ataque que se tem notícia confirmada, um turista de 16 anos, João Vitor Brás, foi atacado por uma onça-pintada que pulou sobre o barco-hotel, durante uma pescaria, felizmente o acidente não foi fatal. “Nasci de novo” disse o estudante para a imprensa na ocasião. A diferença entre o ataque a Alex e de João Vitor é que o estudante caiu no rio dificultando a ação do animal.
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Ferimentos provocados por ataque de onça-pintada a Luiz Alex da Silva Lara – Arquivo de Rogério Cunha de Paula. CENAP/ICMBIO |
Ferimentos provocados por ataque de onça-pintada a João Vitor Brás – Arquivo de Rogério Cunha de Paula. CENAP/ICMBIO. |
Outro ataque às pessoas noticiado pelo G1, em 25 de janeiro de 2012, foi o de Alex Eduardo Petkovicz, de 33 anos, gaúcho, com vários ferimentos causados por ataques de uma onça-pintada levou mais de 200 pontos na cabeça, no rosto e nos braços, mas, mesmo assim, se diz muito grato a Deus e à sua bicicleta. "Fui salvo pela bicicleta e por Deus. Ainda bem que estou vivo", segundo Alex, nessa reportagem, ao ser atacado caiu e ficou embaixo da bicicleta o que minimizou o primeiro ataque.
"Depois de me arranhar, enquanto eu gritava muito, ela foi embora. Daí, quando fui me levantar para tentar escapar e quando dei dois passos para trás, a onça voltou e me atacou de novo" relata a vítima Ele disse não compreender como o animal apareceu ali, pois se trata de zona urbana, além do que, segundo o caminhoneiro, o barracão é bem iluminado. Na ocasião a Polícia Militar do município informou “ter visto o rastro da onça e de dois filhotes que provavelmente são filhotes dela”.
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Alex Eduardo – atacado duas vezes pela onça-pintada |
Bicicleta de Alex Eduardo. (Foto: Weihlan Araújo/Arquivo pessoal) |
No trabalho Ataques de onças a humanos: com o que realmente devemos nos preocupar?, de Rogério Cunha de Paula, do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros - Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. (CENAP/ICMbio), encontramos a informação passada pelo veículo “Sul News, de 04 de novembro de 2008, que relata a sobrevivência do fazendeiro Gregório Costa Soares, que foi atacado durante a madrugada depois de ouvir gritos de porcos. "As onças estão comendo 70% dos meus bezerros. Elas comem um animal a cada dois dias”,..., "Eu fico no prejuízo, porque não posso andar armado, não posso matar um animal silvestre que vou para cadeia, agora eu pergunto e se ela me matasse?”, pergunta Gregório.
A onça-pintada é um predador de topo de cadeia, regulador da população de outros bichos, capivaras e queixadas são exemplos, utiliza sua mandíbula e esmaga a base do crânio de suas presas. “Em termos proporcionais, a mordida dela é mais forte que a do tigre e a do leão”, explica Peter Crawshaw, (Cenap), ligado ao ICMBio. Em cativeiro a onça-pintada alimenta-se de 2 kg de carne por dia.
Para o biólogo Rogério Cunha de Paula do Cenap os ataques são recorrentes à invasão ao habitat das onças-pintadas e não por falta de alimento, pois a região concentra fauna diversificada e é local de convivência de onças, que buscam animais como capivaras e jacarés para se alimentar. Em 2008 alerta para o perigo de outros ataques, pois segundo o biólogo existe um número considerável de onças pintadas, desde a região do Porto Jofre até Poconé e Cáceres e diz “Ouvi muitos relatos de visualizações, em locais distintos. A onça está se acostumando com a presença do homem e isso pode facilitar o ataque. Os pescadores que dependem da atividade para sobrevivência devem procurar lugares descampados e adotar medidas preventivas, como fazer barulho ao chegar, soltando bombinhas, por exemplo, e devem acampar sempre em grupos. O habitat deve ser respeitado”.
Depois da veiculação da novela “Pantanal”, apresentada pela rede Manchete de TV em 1990, a difusão de sua biodiversidade impulsionou o turismo na região. Na tentativa de saciar a vontade dos ecoturistas de estarem perto de animais selvagens, principalmente da onça-pintada, são deixadas em pontos estratégicos, iscas (ceva) para atrair os animais, essas ações tira o medo natural que as onças têm do ser humano.
O "Guia de Convivência Gente e Onça", produzido pelo projeto Escola da Amazônia, alerta: "Essa combinação de perda de medo e associação de gente com comida pode levar a onça a atacar pessoas. Ainda que o avistamento de uma onça na natureza possa ser a maior recompensa para um ecoturista e que o uso de iscas aumente a (tipicamente remota) chance de um encontro, a prática de usar iscas para atrair os felinos podem ter consequências desastrosas e deve ser banida”.
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Uaaa... Esses humanos são mesmo uns chatos! (Foto: Zoológico de Toronto/EUA) www.oeco.org.br. |
Jacaré morto e amarrado próximo ao Rio Três Irmãos. Servindo de ceva (iscas). (Foto: Julinho Monteiro) www.oeco.org.br |
O desequilíbrio ecológico e o comprometimento da biodiversidade da região são os grandes responsáveis, segundo analistas e pesquisadores, pelo aumento na frequência de ataques de animais selvagens contra o gado e as pessoas.
O desmatamento com a destruição da vegetação em prol da produção de carvão, o extrativismo de ouro e pedras preciosas responsáveis pela erosão nos grandes rios da região e o turismo desenfreado provocam o desequilíbrio ecológico do complexo do Pantanal comprometendo toda a sua rica biodiversidade.
Para minimizar o desequilíbrio ecológico e preservar o meio ambiente da região, técnicos e pesquisadores do CENAP/ICMbio apresentam diversas ações a serem executadas por governantes, federal, estadual e municipal, pesquisadores e analistas e pela população local e turística.
Ações:
• Adequar e replicar o programa de educação e comunicação para a conservação da onça pintada nas suas áreas prioritárias;
• Elaborar protocolos de situação: Animal a ser removido, área de recebimento, questões socioculturais, monitoramento, etc.
• Regulamentar a atividade turística voltada para onça pintada no Pantanal;
• Avaliar mudanças na percepção sobre onça-pintada pelas comunidades locais onde ocorre o turismo de observação da espécie;
• Avaliar os aspectos socioculturais da perseguição às onças-pintadas em comunidades de três (3) biomas.
• Estabelecer campanha através de parceria com agência publicitária para divulgação da importância da espécie para conservação da biodiversidade;
• Articular com autores de livros didáticos e paradidáticos para inserção de informações sobre conservação de onça-pintada.